A Ourivesaria Teles foi fundada em 1928 por António Cabral Teles, um continental vindo para os Açores que aqui se radicou, granjeando amizades e envolvendo-se como amador teatral na Recreio dos Artistas. Inicialmente exerceu a atividade de ourives de prata não só na Terceira, mas também em S. Miguel onde se deslocava periodicamente, e só depois se instalou com loja fixa no número 89 da Rua Direita onde, à roda da sua bancada de ourives conserteiro, se reuniam viajantes, clientes e amigos em tertúlia de troca de ideias e novidades.

Em 1943 já os filhos, Arlindo e Humberto, trabalhavam ao lado do pai e daí à contratação de relojoeiros e à constituição de uma oficina foi um passo e por isso, rapidamente, a relojoaria passou a fazer parte da oferta comercial da empresa/loja, ramo de negócio que, com a joalharia, os filhos impulsionarão desde meados da década de 1950.

Com o falecimento do fundador e de um dos irmãos, Humberto em 1984, são os herdeiros de Arlindo que continuam a exploração do negócio. É nessa terceira geração da família Teles, os irmãos Lurdes Maria, Duarte Manuel, Miguel António e Arlindo Paulo de Freitas Teles, que em 1992 se constitui uma sociedade e, a partir dessa data, investe na modernização das instalações e no conceito da empresa dando origem a alterações fundamentais sendo uma das novidades mais significativas a compra, em 2008, do amplo edifício com os números 45 a 51 da Rua Direita.

Em 1871 o edifício é descrito como “morada de casas nobres foreira em 4$000 réis”, mas em 1919 já aparece na posse de Emílio Borges d’Ávila, ativo comerciante da cidade que, por largos anos, dirigiu a Associação Comercial (antecessora da atual Câmara do Comércio), e a Caixa Económica de Angra do Heroísmo. Deverá ter sido ele a modificar o imóvel para a sua feição atual que se destaca pela volumetria que integra um rés-do-chão e dois andares com uma fachada larga composta por cinco portas/janela em cada andar rematadas por varandas estreitas e corridas com sacadas em ferro forjado nos dois andares superiores.

Sendo um edifício com duas lojas, curioso é o tratamento desigual dado ao revestimento das molduras da porta e das montras da loja do lado direito, completamente diferente do resto da fachada. Nessa secção foi aplicada pedra mármore a imitar colunas rematadas superiormente por um friso decorado com cunhas enroladas e pequenos florões de elementos vegetais e que, sobre a porta, é arqueado.

Todo o conjunto é, certamente, um artifício decorativo revivalista com uma inspiração neoclássica e deve ter sido instalado em vida de Emílio d’Ávila, posteriormente à construção do edifício, e como elemento de realce e atrativo de requinte para a clientela do estabelecimento que ali esteve instalado pois que em 1947 o edifício passa para a posse do também comerciante Manuel de Oliveira Gouveia, e nessa época a fachada já era a que lhe conhecemos atualmente.

Ora, até final do século XX, além da secção de vendas do representante da fábrica micaelense do “Chá Barrosa”, Feliciano Pereira dos Santos, nos anos de 1930, também ali estiveram instalados vários cafés com cronologia incerta (o Insulano, o Balalaika, o Flórida…), mas entre eles o Café Nicola deixou memória mais duradoira pelos anos de 1960/70, e a sua instalação foi, provavelmente, inspirada no seu homónimo lisboeta cuja fachada, desenhada pelo arquiteto Norte Júnior, também apresenta um programa decorativo de gosto neoclássico.

Foi este o edifício que a Ourivesaria Teles adquiriu em 2008 e no qual realizou uma cuidada intervenção de recuperação e adaptação que manteve os elementos estruturais e de fachada que tão bem o distinguem na Rua Direita. A culminar este processo de renovação, a Ourivesaria Teles, agora quase centenária no ramo, em apoio do serviço de ourivesaria abriu um atelier de gravação no primeiro piso do imóvel, continuando, dessa forma, a valorizá-lo e a tornar indispensável uma visita às suas instalações.

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