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A casa onde está instalado o Café Aliança foi o antigo solar de família do morgado João Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda que, no início do século XVIII o uniu com outra casa que ali existia pela banda oeste. Nessa altura, a frontaria foi-lhe alterada e introduzido um portão nobre, ao centro, de modo que a casa ficou com um comprido rés do chão com lojas a que correspondiam, no primeiro andar, igual número de varandas de sacada. Quando na Praça se realizavam touradas, o touril era armado no quintal e pátio interiores, de modo que os touros saiam para a praça pelo portão nobre da casa.

Na década de 1870 Joaquim José de Oliveira Braz tinha uma cocheira numa das lojas e, em 1881, em conjunto com um filho, José Joaquim, abriu um depósito de pão a que acrescentaram, mais tarde, a venda de mercearias e líquidos. É por essa altura que José Joaquim Braz compra todo o prédio e lhe retira o grande portão nobre que o ornamentava, razão pela qual, certamente, naquele espaço, ainda hoje podemos ver que a comprida varanda é interrompida. O negócio de mercearia, depois de ter sido passado à firma Valadão & Machado na década de 1930, já está na posse de José Tomaz Machado em 1942, estabelecimento que ali permanecerá durante muitos anos de forma que por todos era conhecido como o José Tomaz da Praça Velha ou a Mercearia do Povo. Nas outras lojas instalou-se um pequeno café, na altura quase só um corredor, uma loja de ferragens e um estabelecimento de fazendas.

O café, desde logo designado Café Aliança, pertenceu, sucessivamente, a José Diniz Fernandes e a Sérgio de Bettencourt Aguiar, e foi local de cavaqueira e de reunião de vários grupos: de amantes de futebol que ouviam os relatos dos jogos pelo rádio instalado numa prateleira alta entre garrafas de licor e conhaque, dos apreciadores de touros e touradas que comentavam cada faena das corridas recentes, de militares (portugueses e ingleses) estacionados na ilha no período da IIª guerra mundial, de uma micro-tertúlia de católicos progressistas que iam criticando a situação…
O Café Aliança e o seu vizinho, o José Tomás da Praça Velha, tinham uma localização estratégica perto da paragem dos autocarros que faziam, e fazem ainda hoje, as carreiras Angra /Praia e Angra /Biscoitos de modo que os magotes de gente que esperava para entrar ou que saía do autocarro, vindos ou à espera de ir para as freguesias, era (é) sempre muita: estudantes irrequietos e trabalhadores cansados, famílias com filhos pequenos já adormecidos pela excitação de uma manhã, ou tarde, na cidade, tias e tios que vieram tratar de assuntos ou ao médico, mais os sacos com edredons, almofadas e brinquedos de última hora e, ainda, uns raspas para raspar em casa.

Os atuais donos são os irmãos José António Pacheco, Francisco Manuel Pacheco, Maria Luísa Pacheco Aguiar e Luís Carlos Pacheco filhos de José Martins Pacheco que o comprou em outubro de 1980, e que, durante muitos anos o mantiveram com a sua configuração de sempre: estreito e comprido, acompanhando o balcão, onde um enxame de clientes de pé, pedia, constantemente, cafés, sandes, bolos, cervejas e copos de vinho, totobolas que depois passaram a ser acompanhados por totolotos e raspas. E no canto mais afastado, apenas duas mesas.

Hoje o Aliança está diferente, não só na aparência, mas também nas funções que desempenha e nos serviços que oferece. Depois de adquirirem todo o imóvel, e com base num projeto do arquiteto João Monjardino, os irmãos Pacheco integraram no café os espaços do piso térreo que , antes, estavam ocupados pela loja do José Tomás, à sua esquerda, e ainda transformaram o pátio das traseiras numa esplanada que disputa a atenção com a esplanada instalada na própria Praça Velha, já desde há anos explorada pelo Aliança. A ampliação permitiu que ao café se associasse o fornecimento de pão fresco, um restaurante e snack bar de modo que, agora, é um dos pontos de encontro da juventude noctívaga. Quanto ao primeiro piso foi transformado num hostel razão pela qual o velhinho Café Aliança deu lugar ao novo Aliança Café & Hostel.

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