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Mas porque é que o edifício onde está instalada a Farmácia Vasconcelos tem um brasão na fachada? E de que brasão se trata? Está, de alguma forma, relacionado com a antiga botica? Certamente, já todos se fizeram estas perguntas.

Não há dúvida de que, pelas dimensões, esta deverá ter sido a habitação de uma antiga família da aristocracia angrense. A fachada apresenta seis janelas de sacada no primeiro piso a que corresponde igual número de aberturas no piso térreo: ao centro duas grossas portas de dois batentes ladeadas por aquilo que deveriam ser janelas, mas entretanto rasgadas para dar origem a montras. A esta simetria escapa a porta da farmácia, aberta entre duas das portas/janelas.

Chamaram-lhe a Casa dos Almeidas porque pertenceu à família desse nome e cujo último representante foi o morgado Joaquim Almeida Tavares do Canto, um dos principais chefes locais do partido miguelista e comandante da guerrilha realista que alvoroçou toda a ilha em 1828. Dele se contam muitas histórias de fugas nunca desvendadas, apesar da mais alta recompensa prometida pela sua captura ou denúncia do lugar onde se escondia, o que nunca aconteceu.

Arrestados os seus bens pelo governo liberal, na casa instalou-se a Pagadoria Geral Militar em julho de 1829 e, depois da guerra, em 1852, foi comprada pelo comendador Joaquim António de Mendonça e Menezes, vice-cônsul do Brasil na Terceira que nela se instalou com a sua numerosa família de catorze filhos. É então que a fachada da casa é ornamentada com o brazão dos Menezes e Pamplonas, de quem Joaquim António descendia.

Uma das suas filhas, Filomena Augusta, casará em 1879 com António Casimiro Mourato, farmacêutico vindo do continente que, em 1882, abrirá a sua própria farmácia nas lojas da casa da Rua da Sé, onde o casal morava. Talvez seja dessa época a abertura de uma nova porta para dar acesso à farmácia ornamentada com uma moldura encurvada, muito diferente das molduras das outras portas e janelas. Ainda assim, no interior, pode observar-se a arcada em cantaria que divide o espaço e que acompanha todo o edifício, processo construtivo que podemos observar em muitas casas da cidade e que, além de facilitar o nivelamento do edifício, tornava os andares superiores mais secos e resistentes aos sismos e às cheias.

Depois deste início, a Farmácia Mourato foi passando a outros proprietários que lhe foram alterando o nome: a Farmácia Fagundes, depois a Farmácia Fagundes & Lourenço (responsável pela instalação, em 1931, de um laboratório Homeopático) e, por último, a Farmácia Vasconcelos, fundada por João da Cunha Vasconcelos e na mesma família desde então.

Nas farmácias oitocentistas e do princípio do século XX os medicamentos vendidos eram preparados pelo farmacêutico e feitos na hora segundo a prescrição do médico, situação que só se foi alterando após o final da Iª Guerra Mundial com o aparecimento dos medicamentos produzidos industrialmente. Os processos artesanais de produção determinavam que o equipamento de que as farmácias dispunham deveria incluir balanças de precisão, filtros, almofarizes, lamparinas e potes a que também se chamava mangas, ou canudos, dado o seu curioso formato parecido com um cilíndro alto. Nos potes se guardavam as preparações concluídas, ou os ingredientes vegetais, minerais ou animais para as confecionar e que, muitas vezes, eram originários da flora e da fauna brasileira e oriental: folhas, frutos, sementes, raízes, essências, bálsamos, resinas e pequenos pedaços lenhosos eram esmagados, fervidos ou macerados para ingerir, aspirar, friccionar ou aplicar em cataplasma como paliativos para uma série de doenças.
Naturalmente, cada farmácia ia-se especializando em determinados produtos, e havia mesmo algumas que se tornavam famosas pela qualidade e eficácia de determinados preparados de que eram produtores exclusivos, ou seus representantes. Não é por isso de estranhar que, em 1932, a publicidade da Farmácia Lourenço ainda garantisse disponibilizar … o fabrico de comprimidos.



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