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Embora lhe chamemos, sempre, O Nildo, a loja começou por se chamar Central das Ferragens, e além de ferragens propriamente ditas (peças em ferro ou noutro metal não precioso necessárias para pôr a funcionar ou a adornar qualquer equipamento) também vende utensílios de cozinha, ferramentas e acessórios para muitos ofícios, instrumentos de trabalho para a lavoura, cadeados e fechaduras, redes...

O interior da loja não sofre alterações desde há mais de 70 anos, mas, por isso mesmo, é um encanto ver pormenores como o balcão em madeira com uma secção basculante que se levanta e baixa sempre que alguém quer passar de um lado para o outro; os armários-vitrina em madeira a cobrir as paredes da entrada cheios de tachos e panelas em alumínio; os antigos quadros litografados com avisos à clientela sobre dívidas e o incumprimento de pagamentos, ou as paredes por trás do balcão cobertas de pequenas gavetas em madeira em cuja face exterior está preso um exemplar, bem visível, do que está lá dentro, processo de organização que proporciona uma ordem eficaz, cómoda para o cliente e para o vendedor.

As lojas de ferragens são uma espécie de “centro comercial” onde podemos encontrar de tudo um pouco que faça falta nos lares domésticos e nas oficinas - desde ferramentas como os serrotes, os martelos ou as chaves de parafusos, simples acessórios como os pregos, as anilhas ou as fechaduras, ou os mais variados produtos químicos. A vulgarização deste tipo de loja foi expressiva por meados do século XIX, e em Angra isso também aconteceu sendo várias as que foram abrindo (e também fechando) em muitas artérias da cidade, mas o certo é que a sua existência é testemunho das alterações que, desde então, toda a sociedade vinha sofrendo quanto à produção e à comercialização de bens.

De facto, a produção artesanal vinha sendo substituida pela produção industrial, e em larga escala, de bens duráveis em ferro de que eram beneficiários a construção civil e as pequenas oficinas como as carpintarias, as marcenarias, as serrações, as tanoarias, as latoarias ou as fábricas de curtumes entre outras, e cujos próprios processos de trabalho estavam em vias de especialização uma vez que os seus artífices já não precisavam de produzir determinados instrumentos de trabalho necessários à execução dos seus produtos.

É aí que entram as lojas de ferragens que disponibilizavam todo o tipo de instrumentos e acessórios, muitas vezes importados das grandes fábricas inglesas, francesas ou americanas, e serão elas que também introduzirão o curioso arranjo interior ao estilo de um mostruário total com o seu sistema de gavetinhas cobrindo as paredes das lojas como vimos na Central de Ferragens.

Por volta de 1951 o fundador da Central de Ferragens foi o comerciante Nildo Neves, já antes empregado numa loja do mesmo ramo que então existia frente à Sé. Todo o quarteirão onde está a loja do Nildo fora, inicialmente, o edifício do Convento da Esperança, mas depois de extinto, em 1834, o grande edifício foi dividido e vendido a diferentes proprietários particulares, e as respetivas lojas foram sendo ocupadas por estabelecimentos comerciais de diferentes especialidades: mercearia, loja de vinho e louça de barro, drogaria, lojas de tecidos. A Central de Ferragens ocupou os números 176 e 178, mas com o tempo acabou por integrar, também, uma pequenina oficina de sapateiro, que depois passara a oficina de chapéus, e que estivera instalada num espaço ao lado - o número 180.

Desde então, a loja é procurada por todos - gente da cidade e das freguesias, profissionais ou particulares, homens ou mulheres – desde que queiram fazer arranjos ou obras em casa, e onde cabem, também, aqueles amadores que, cada vez mais, apreciam dedicar-se ao bricolage e à confeção privada de objetos de artes decorativas.

A família Neves, agora liderada por Humberto Neves, filho de Nildo, continua à frente do negócio indo na terceira geração a garantir que às “obras” da cidade não faltam os materiais necessários.



https://www.facebook.com/Central-de-Ferragens-Nildo-Neves-702084713187502
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