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A Padaria Angrense é um mimo arquitectónico da cidade, intocado desde a primeira década do século XX e, desde então, sempre em funcionamento.
O grande imóvel de dois pisos foi construído de raiz em terrenos antes pertencentes à antiga cerca do convento da Esperança, urbanizados e vendidos após a extinção do convento, em 1834. E o encantamento começa ainda na rua, só de podermos apreciar o recorte da caixilharia das montras ainda preservadas, e o pormenor das portadas em madeira colocadas exteriormente e presas com pregos que se encaixam diariamente. No piso térreo está a loja com um pequeno escritório anexo, do lado esquerdo, e do outro lado a fábrica propriamente dita, uma ampla sala onde ainda hoje existe maquinaria e equipamentos de produção de pão, bolachas e biscoitos nos quais reconhecemos o passar do tempo.

Há cerca de 30 anos a sala de fabrico foi ampliada anexando-se-lhe o espaço anteriormente ocupado por um pátio, mas é a loja que desperta a atenção dos mais curiosos: é uma divisão sobrecomprida revestida até meia altura da parede por azulejos com uma decoração monocromática em relevo e vidrada; a barrar a entrada para o escritório e a meio da sala, está instalado um gradeamento em ferro forjado, trabalho executado pela "Metalúrgica Terceirense" nos anos de 1910 que está rematado por um tampo de balcão em madeira, enquanto o pavimento é revestido com um bonito mosaico hidráulico da mesma época. O pequeno escritório lateral repete a decoração e revestimento das paredes e do pavimento da loja, além de possuir um enorme cofre em ferro pintado de preto embutido numa das paredes, e uma antiga secretária em madeira de Flandres.

A Padaria Angrense constituiu-se na década de 1920 enquanto sociedade entre Manuel A. da Costa e Basílio Simões com a designação de Simões, Costa & Cª no mesmo local onde ainda hoje se encontra - a Rua do Rego n.º 70- que era, então, a Rua Mouzinho de Albuquerque. Entre 1928 e 1931 a padaria passou a ser, apenas, da Basílio Simões & Irmãos.

A Basílio Simões & Irmãos é uma empresa retalhista instalada na Terceira desde meados do século XIX, e na lógica de diversificação de investimentos da empresa mostrou-se pertinente intervir no mercado da panificação que, na altura, se mostrava obsoleto e deficitário. É, aliás na sequência da constituição da padaria que a empresa-mãe se apercebe da necessidade de controlar, também, o sector abastecedor da matéria-prima abandonando a precária e pouco produtiva moagem em moinho hidráulico com que vinha operando, e dando início às obras de construção de um moderno edifício de moagem com maquinaria a diesel e que inicia produção em 1928.

Com essa estratégia de modernização, a Padaria Angrense será a primeira na Terceira a possuir uma amassadeira mecânica e a fazer a distribuição de pão fora dos limites geográficos de vizinhança optando por constituir uma “frota” de transportes próprios para entregas domiciliárias que alcançava, até, freguesias limítrofes da cidade. Por outro lado, também apostou na diversificação da produção oferecendo pão de diversas categorias de farinha, qualidade e formato, torrefação de café e cevada, bolachas, rebuçados e doces. A confeitaria foi, aliás, uma das produções de maior prestígio da empresa e que era comercializada, em “tempo de vacas magras”, em embalagens recicladas localmente a que se acrescentava o logotipo da Padaria Angrense. Ainda hoje, muitos consideram os confeitos da Padaria Angrense os melhores do mercado.

Os confeitos são uma especialidade da doçaria que consiste numa técnica antiga de cobrir com açúcar, amêndoas, pinhões ou outras sementes comestíveis secando-os, depois, ao lume muito lentamente. Nos Açores, e na Terceira, os confeitos são feitos com sementes de funcho sendo costume os namorados oferecerem-nos às raparigas. Nas touradas havia sempre rapazes mais atrevidos que os atiravam em todas as direções, mas também se espalhavam pelas mesas de função de modo que os convidados podiam pô-los no copo para adoçar o vinho de cheiro.

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